domingo, janeiro 28, 2007

Sobre o inefável

É engraçado o efeito que a dança tem sobre mim... é como se naquele instante eu fosse aquilo. Não existe platéia, não existe medo, nem eu existo... existe somente a dança.
Uma vez ouvi "se pudesse explicar em palavras o que sinto, não dançaria"... porque é quase impossível... é como traduzir o intraduzível.

E o dançar não é só bonito, é lúdico e terapêutico, quando nos coloca em contato com nossos abismos, com aquilo de mais belo e assustador que existe em nossas profundezas; passando assim de simples "ato" para um exercício de auto-conhecimento onde descobre-se; e neste momento inicia-se um processo de aceitação e valorização, tornando-se, desta forma, alguém mais forte e mais segura.

O que é esta felicidade que me envolve enquanto danço? Felicidade esta, encontrada tanto na dança do ventre, quanto na flamenca ou numa dança de salão?
A dança do ventre, meu primeiro contato com está Arte, sempre foi sinônimo de “celebração”: celebrar a alegria e a intensidade da vida. Era um contato com as origens mais longínquas e ancestrais; algo capaz de conectar a mulher do século XXI com a camponesa da antigüidade egípcia, com a sacerdotisa que dançava para Ísis ou Bastet, com a grega que colhia trigo, com a babilônica que dava à luz, com a fenícia que fazia potes de barro. Um fio que une ou uma teia que entrelaça.

Assim, estrapolando para os outros tipos de "celebrações", posso dizer que a dança é um ato de: congregar, vivenciar, alegrar, aprender, ensinar, existir... e resistir [verbo que muitas vezes resume a história de nossa existência]. É como se dançando tentasse rejeitar o cinza e semear vida... é como se continuasse doendo, mas continuasse dançando "Como insulto. Como resposta. Como centelha do viver", Clarice Lispector.
Com um golpe de otimismo, avassalador. Com um sorriso inesperado, estampado.

Como pude ficar tanto tempo longe disso?

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